Depois de tanto tempo sem novidades, resolvi voltar com uma dica. Póstuma. Foi uma ótima dica, sensacional, mas agora já era, agora só ano que vem, talvez em São Paulo. Tem, mas acabou.
A dica era a Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária, que esse ano ganhou um nome mais "fashion", e passou a se chamar Feira Brasil Rural Contemporâneo. Se a mudança serviu pra atrair mais gente, tudo bem.A ideia da feira, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, era reunir pequenos produtores rurais do Brasil inteiro e mostrar de onde vem aquilo que é posto em nossas mesas. E isso foi feito utilizando todo o espaço da Marina da Glória, de frente para a enseada de Botafogo.
Cada setor da feira era dedicado a uma região do Brasil, e dentro das regiões havia os espaços para cada estado. Como numa feira, os agricultores exibiam seus produtos mostrando toda diversidade do nosso país. Havia ainda stands temáticos, dedicados à Amazonia, às cachaças, aos orgânicos, ao babuçú, à reforma agrária, e outros.
Gostaria de ressaltar dois aspectos da feira. O primeiro, é claro, o aspecto comidístico.
Me fartei. Comi tacacá do Pará, tapioca de Tucunaré, suco de Tamarindo, queijos de todos os cantos, aipim com torresmo mineiro, cachaças, água de côco, cupuaçú, farinhas... Voltei de lá com bolsa carregada de coisas deliciosas. Tomate seco, pepino em conserva, farinha de taipoca, chá-mate do MST, palmito pupunha, polpa de tamarindo, farinha de mandioca, chutney de banana, goiabada cascão...
Enfim, foi uma orgia. Muito produtos eram orgânicos e estavam com preços "normais", e não os preços de orgânicos que encontramos usualmente.
O outro aspecto foi a minha satisfação em poder consumir alimentos diretamente dos pequenos produtores. Produtos "de verdade", que não saíram de nenhuma agroindústria e nem passaram por nenhum atravessador. E eu sabia que o dinheiro que estava pagando pelo produto, era pelo produto mesmo.
A ideia da feira era mostrar a importância da agricultura familiar para a matriz alimentícia nacional. O censo agrário divulgado recentemente mostrou que, apesar do crescimento da concentração rural no Brasil, a produtividade do pequeno agricultor ainda supera a dos latifúndios, isto é, produzem mais em menos espaço, e de maneira mais saudável, sustentável e justa.
Incentivar a agricultura familiar, pequena agricultura e reforma agrária é uma estratégia acertada em vários sentidos. Destaco alguns:
- Segurança alimentar: Com a produção de alimentos descentralizada e pulverizada, não corremos o risco de ficar dependentes de poucas agroindústrias, que podem controlar preços, por exemplo;
- Meio ambiente: para aumentar a produtividade, o latifúndio usa como recurso a monocultura, ou seja, áreas imensas com uma mesma plantação. Isso exaure o solo, acaba com a biodiversidade e demanda mais agrotóxicos, já que as pragas vão ficando cada vez mais resistentes e perdem seus inimigos naturais;
- Saúde: pelos motivos acima, a agricultura familiar usa menos agrotóxico, preservando a saúde do produtor e do consumidor;
- Êxodo Rural: a agroindústria expulsa as famílias do campo, pois oferece péssimas condições de trabalho e nenhuma expectativa de melhoria de vida para os trabalhadores. Além disso, aquelas que compram a produção de pequenos agricultores, exercem preços ínfimos pois monopolizam o mercado. Isso contribui para a fuga das famílias do campo, lotando ainda mais nossas já saturadas cidades;
- Produção Local: enquanto a agroindústria produz em grande quantidade para exportação, o agricultor familiar abastece o mercado local. Com isso, a logística é mais barata, há menos emissão de gases no transporte dos alimentos, o preço pago ao agricultor é mais justo e a renda é melhor distribuída entre vários agricultores. O modelo de desenvolvimento local, em contraposição ao global, é praticamente uma unanimidade entre quem entende de sustentabilidade. E a pequena agricultura é desenvolvimento local.
Peço desculpas novamente, mas não tenho escrito nada a não ser a minha dissertação nos últimos meses. Em breve, o DM volta ao ritmo antigo.